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sexta-feira, 5 de abril de 2024

UM RETRATO DE MULHER

 

            UM RETRATO DE MULHER


            Para pintar um retrato de mulher

            Escolha uma emoção, deixe levar por ela

            Tome a parte mais terna de um sonho

            Transforme em tinta.

 

            Afaste dos olhos todos os outros - se houvera

            Prenda a tela a um canto

            Do lugar mais particular seu

            Junte a este canto, o canto de uma voz não presente

           

            Coloque na tela uma rosa, agora o jardim

            Espere passar por este jardim a dona do canto.

            Se demorar, não desanime ela vira –

            Se no outono -

            Se no inverno -

            Se no verão.

           

            Não haverá primavera caso não venha,

            Mesmo assim deixe permanecer as flores no canto da tela

            Um dia, quem sabe, ela mude o rumo e venha

            Caso ela venha, contorne docemente o pincel em suas mãos,

            Fazendo-os voar como uma fênix

            Tome a liberdade de contornar seu corpo

            Com cuidado

            Debruce sobre ela o mistério do crepúsculo

            Envolva a tela com uma tênue imagem de mistério

            Tire neste momento o véu que cobre os seus cabelos

            Traga a brisa suave e deixe desalinhá-los

            Retire da tela o jardim e a rosa

            Deixe-a voluntaria refletir toda emoção

            Espere por vê-la sonhar,

            Se ela não sonhar será um mal sinal

            Mas se sonhar será sinal de um bom signo.


           Leonardo de Souza Dutra


           

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

A MORTE POR UM FIO

       A MORTE POR UM FIO

 

         Morre formiga, morre!

         Gritou surdamente enfurecido.

 

         Sobre uma escrivaninha

         Abandonada, vagava lerda formiga.

         Serva de tantos servos

         Severa em sua missão

         Jornada longa em busca de informação

         Deixando suas antenas tocarem o ar

         Demonstrando intimidade com o instinto.

 

         Jogado a um canto da biblioteca

         Olhos agudos

         Ar sombrio,

         Imobilizado

         Transferia para dentro de si

         O vagar alucinado da formiga

         Vendo-a

         Pareciam perdidos

         Um buscando o caminho, outro uma solução

 

         Morre formiga, morre!

         Gritou surdamente enfurecido.

 

         Se perdida

         Se perdido

         Estavam em uma única ideia, eles, atados

         Como que querendo desmembrar sua parte formiga

         Arremessou-lhe sua visão formiga

         Deixando cair indolentemente pesado livro

         Desfigurando assim a rubra formiga

         Que um dia se aventurou a percorrer a escrivaninha

         empoeirada de uma biblioteca.

 

         Morreu a formiga, morreu!


        Leonardo de Souza Dutra

NASCER PARA A ALVA

                                           NASCER PARA A ALVA 

 

                                    Onde estás que não te vejo

                                    Hoje não te sinto

                                    É sinistro o tempo

                                    Que envelhece os dias,

                                    Anoitecendo os olhos

                                    Que já foram sóis.

 

                                    Solitário andar ausente

                                    Na escuridão

                                    Clarão de outros olhos

                                    A murmurar assim...

 

                                    Que venhas a me embalar

                                    E ainda que cansados teus olhos

                                    Deita-te ao meu lado

                                    Faz do meu ser o teu.

 

                                    Embriaga-me

                                    Do teu suor

                                    Inundando com teus beijos,

                                    Quero morrer nos teus seios

                                    E nascer para a alva

                                    Do teu corpo

                                    Catando viver.


               Leonardo de Souza Dutra

 

 

 


Encanto

 

                         Encanto

 Se esse teu encanto se mostra assim:

 Entre risos,

 Entre folhas.

 E em cada canto

 Seria apenas o que mostras para mim,

 Mas se um dia puder não vê-lo

 Estarei aqui     

 Sempre a imaginar o quanto me foi belo   esse teu

Encanto...

 

Leonardo de Souza Dutra

                                  

segunda-feira, 10 de abril de 2023

MARIPOSA

 

        

                  MARIPOSA

               Que por luz assombrada

               Não sobrevive

               Na ânsia de querer

               S'aquentar.

               É morte que enceta

               MARIPOSA

               No sem brilho do bailar

               É mais um rito

               Que sem mito

               Da luz a afagar...

               Se sem noite,

               Se sem luz,

               Se sem aplausos.

               Queda ao abalo do embalo

               Da louca luz a se jogar.

               E baila rumo ao certo

               Do último rodopio

               Tomba a MARIPOSA

               Queimada apenas por um fio  

 

               Leonardo de Souza Dutra

O RECIFE É ASSIM


O RECIFE É ASSIM 

O Recife é assim:

Tem as cores,

Os encantos

De uma brisa suave que sopra

E vem sussurrando

Todos os amores

Meus rumores

Noites em solidão.

E quando em olhos buliçosos

Que se movem a te provocar

São como tuas águas

Serpeando tuas margens

Ondulantes rumo ao mar.

És o sol de cada manhã

Inebriando outros olhares

Que debruçados em tuas paisagens

Se vão a imaginar.

E tu vais movendo teus ares

Diante de todos os altares

Criando em cada esquina

A intenção de te venerar.

E assim vamos te imaginando, Recife

Esse desejo de abraçar 

 

Leonardo de Souza Dutra

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

SOLIDÃO PALAVRA QUE SE ESCREVE SOZINHA


Descortinar-se no processo do desejo ardente

São as palavras que completariam o destino?

Por certo estaremos juntos

Por certo...

Nunca estivemos juntos.

Se juntarmos agora os nossos pensamos

Teríamos uma história,

Um drama,

Uma comédia?

Seríamos como atores desse desejo

Solidão...

Palavra que se ESCREVE sozinha

Não poderia a ela juntar outra,

Pois não haveria harmonia

Ela por si só já traz à sua própria desarmonia

Deixe-me assim neste canto mofado do pensamento

Quero destilá-lo sem reservas

E assim posto a ela

Escravo dos seus desencantos

Procurarei não mais lamentar você

E onde houver um ombro não terá minha rude cabeça

A lamentar solidão,

Seja eu e não tu a sentires esse amargo licor

De que nunca será escrita em outra palavra

E assim seremos

Separados por um fio.

Minha solidão, adeus!


Leonardo de Souza Dutra